EMPRESAS CONSTITUÍDAS NO FORMATO SOCIETÁRIO DE EIRELI DEVEM TER CAPITAL SOCIAL DE NO MÍNIMO 100 SALÁRIOS MÍNIMOS
20/01/2021
EMPRESAS CONSTITUÍDAS NO FORMATO SOCIETÁRIO DE EIRELI DEVEM TER
CAPITAL SOCIAL DE NO MÍNIMO 100 SALÁRIOS MÍNIMOS
A Lei nº 12.441 de 2011, que alterou o Código Civil, instituiu a empresa individual de responsabilidade limitada, nos termos do art. 980-A, que prevê:
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.
A partir de tal dispositivo legal, surgiram questionamentos judiciais no sentido de que a imposição do capital mínimo para tal modalidade de empresa não devesse ser obrigatório, sendo que tal tema foi recentemente decidido pelo Supremo Tribunal Federal, na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4637, mantendo a necessidade do capital social mínimo.
Neste sentido é o assunto noticiado pelo próprio Supremo Tribunal Federal:
“O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou válida regra do Código Civil (Lei 10.406/2002) que exige capital social de pelo menos 100 salários mínimos para a criação de empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli). Por votação majoritária, na sessão virtual encerrada em 4/12, o Plenário julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4637, com o entendimento de que o parâmetro adotado pela lei, de caráter meramente referencial, não ofende disposição da Constituição Federal que veda a vinculação do salário mínimo para qualquer fim.
O Partido Popular Socialista (PPS), autor da ação, argumentava que o piso, estabelecido na parte final do caput do artigo 980-A do Código Civil, para a abertura desse tipo de empresa estaria em desacordo com o artigo 7º, inciso IV, do texto constitucional e representaria obstáculo à livre iniciativa, uma vez que o valor seria demasiadamente elevado para o pequeno empreendedor.
Salário mínimo
De acordo com o voto do relator, ministro Gilmar Mendes, que prevaleceu no julgamento, o sentido da proibição do dispositivo constitucional é proteger a integridade do salário mínimo como direito fundamental do trabalhador. Portanto, nem toda referência a ele será ofensiva à Constituição. Há situações em que a menção é meramente referencial, como no caso.
Segundo Mendes, não há, na exigência, uma forma de indexação que possa interferir ou prejudicar os reajustes periódicos do salário mínimo. O valor serve apenas como parâmetro para a determinação do capital social a ser integralizado na abertura da Eireli.
Livre iniciativa
Para o relator, a exigência de integralização do capital social no montante previsto no artigo 980-A do Código Civil também não configura impedimento ao livre exercício da atividade empresarial, pois é um requisito para uma forma de pessoa jurídica, e não uma condição de acesso ao mercado. Trata-se, a seu ver, de uma garantia em favor dos credores, “um mínimo que se deve assegurar em contrapartida à limitação da responsabilidade individual do empresário”.
O ministro Gilmar Mendes explicou que a Lei 12.441/2011, que introduziu a regra no Código Civil, inaugurou uma nova forma de pessoa jurídica no Direito Civil brasileiro, unipessoal. Diante disso, é de se esperar que o legislador tenha tomado cautelas ao fazê-lo.
O ministro Edson Fachin ficou vencido, por entender que a regra fere o âmbito de proteção do princípio da livre iniciativa, ao dificultar, para a maior parte dos empreendedores brasileiros, a constituição de uma espécie empresarial.”
Vitor Hugo Zenatto
OAB/RS 27.205
Assessor Jurídico - CE